O filósofo norte-americano defendia a democracia e a liberdade de pensamento como instrumentos para a maturação emocional e intelectual das crianças.
Biografia
John Dewey nasceu em 1859 em Burlington, uma pequena cidade agrícola do estado
norte-americano de Vermont. Na escola, teve uma educação desinteressante e
desestimulante, o que foi compensado pela formação que recebeu em casa. Ainda
criança, via sua mãe confiar aos filhos pequenas tarefas para despertar o senso
de responsabilidade. Foi professor secundário por três anos antes de cursar a
Universidade Johns Hopkins, em Baltimore. Estudou artes e filosofia e tornou-se
professor da Universidade de Minnesota. Escreveu sobre filosofia e educação,
além de arte, religião, moral, teoria do conhecimento, psicologia e política.
Seu interesse por pedagogia nasceu da observação de que a escola de seu tempo
continuava, em grande parte, orientada por valores tradicionais, e não havia
incorporado as descobertas da psicologia, nem acompanhara os avanços políticos
e sociais. Fiel à causa democrática, participou de vários movimentos sociais.
Criou uma universidade-exílio para acolher estudantes perseguidos em países de
regime totalitário. Morreu em 1952, aos 93 anos.
A defesa irrestrita do
experimentalismo
Em
quase um século, Dewey presenciou muitas transformações. Viu o fim da Guerra
Civil Americana, o desenvolvimento tecnológico, a Revolução Russa de 1917, a
crise econômica de 1929. Em parte nasceu dessa efervescência mundial sua
concepção mutável da realidade e dos valores, além da convicção de que só a
inteligência dá ao homem o poder de alterar sua existência. "Idealizar e
racionalizar o universo em geral é uma confissão de incapacidade de dominar os
cursos das coisas que especificamente nos dizem respeito", escreveu. Essa
perspectiva levou Dewey a rejeitar a ideia de leis morais fixas e imutáveis.
Como boa parte dos intelectuais de seu tempo, o filósofo norte-americano sofreu
forte influência tanto do evolucionismo das ciências naturais quanto do
positivismo das ciências humanas. Defendia a utilização, diante dos problemas
sociais, dos métodos e atitudes experimentais que foram bem-sucedidos nas
ciências naturais. Ele próprio procurou aplicar essa abordagem em relação à
investigação filosófica e à didática.
Quantas
vezes você já ouviu falar na necessidade de valorizar a capacidade de pensar
dos alunos? De prepará-los para questionar a realidade? De unir teoria e
prática? De problematizar? Se você se preocupa com essas questões, já esbarrou,
mesmo sem saber, em algumas das concepções de John Dewey (1859-1952), filósofo
norte-americano que influenciou educadores de várias partes do mundo. No Brasil
inspirou o movimento da Escola Nova, liderado por Anísio Teixeira, ao colocar a
atividade prática e a democracia como importantes ingredientes da educação.
Dewey
é o nome mais célebre da corrente filosófica que ficou conhecida como
pragmatismo, embora ele preferisse o nome instrumentalismo - uma vez que, para
essa escola de pensamento, as ideias só têm importância desde que sirvam de
instrumento para a resolução de problemas reais. No campo específico da
pedagogia, a teoria de Dewey se inscreve na chamada educação progressiva. Um de
seus principais objetivos é educar a criança como um todo. O que importa é o
crescimento - físico, emocional e intelectual.
O
princípio é que os alunos aprendem melhor realizando tarefas associadas aos
conteúdos ensinados. Atividades manuais e criativas ganharam destaque no
currículo e as crianças passaram a ser estimuladas a experimentar e pensar por
si mesmas. Nesse contexto, a democracia ganha peso, por ser a ordem política
que permite o maior desenvolvimento dos indivíduos, no papel de decidir em
conjunto o destino do grupo a que pertencem. Dewey defendia a democracia não só
no campo institucional mas também no interior das escolas.
Estímulo à cooperação
Influenciado
pelo empirismo, Dewey criou uma escola-laboratório ligada à universidade onde
lecionava para testar métodos pedagógicos. Ele insistia na necessidade de
estreitar a relação entre teoria e prática, pois acreditava que as hipóteses
teóricas só têm sentido no dia a dia. Outro ponto-chave de sua teoria é a
crença de que o conhecimento é construído de consensos, que por sua vez
resultam de discussões coletivas. "O aprendizado se dá quando
compartilhamos experiências, e isso só é possível num ambiente democrático,
onde não haja barreiras ao intercâmbio de pensamento", escreveu. Por isso,
a escola deve proporcionar práticas conjuntas e promover situações de
cooperação, em vez de lidar com as crianças de forma isolada.
Liberdade intelectual para os alunos
A
filosofia deweyana remete a uma prática docente baseada na liberdade do aluno
para elaborar as próprias certezas, os próprios conhecimentos, as próprias
regras morais. Isso não significa reduzir a importância do currículo ou dos
saberes do educador. Para Dewey, o professor deve apresentar os conteúdos
escolares na forma de questões ou problemas e jamais dar de antemão respostas
ou soluções prontas. Em lugar de começar com definições ou conceitos já
elaborados, deve usar procedimentos que façam o aluno raciocinar e elaborar os
próprios conceitos para depois confrontar com o conhecimento sistematizado.
Pode-se afirmar que as teorias mais modernas da didática, como o construtivismo
e as bases teóricas dos Parâmetros Curriculares Nacionais, têm inspiração nas
ideias do educador.
Seu grande mérito foi ter sido um dos primeiros a chamar a atenção para a capacidade de pensar dos alunos. Dewey acreditava que, para o sucesso do processo educativo, bastava um grupo de pessoas se comunicando e trocando ideias, sentimentos e experiências sobre as situações práticas do dia a dia. Ao mesmo tempo, reconhecia que, à medida que as sociedades foram ficando complexas, a distância entre adultos e crianças se ampliou demais. Daí a necessidade da escola, um espaço onde as pessoas se encontram para educar e ser educadas. O papel dessa instituição, segundo ele, é reproduzir a comunidade em miniatura, apresentar o mundo de um modo simplificado e organizado e, aos poucos, conduzir as crianças ao sentido e à compreensão das coisas mais complexas. Em outras palavras, o objetivo da escola deveria ser ensinar a criança a viver no mundo.
"Afinal,
as crianças não estão, num dado momento, sendo preparadas para a vida e, em
outro, vivendo", ensinou, argumentando que o aprendizado se dá justamente
quando os alunos são colocados diante de problemas reais. A educação, na visão
deweyana, é "uma constante reconstrução da experiência, de forma a dar-lhe
cada vez mais sentido e a habilitar as novas gerações a responder aos desafios
da sociedade". Educar, portanto, é mais do que reproduzir conhecimentos. É
incentivar o desejo de desenvolvimento contínuo, preparar pessoas para
transformar algo.
A experiência educativa é, para Dewey, reflexiva, resultando em novos conhecimentos. Deve seguir alguns pontos essenciais: que o aluno esteja numa verdadeira situação de experimentação, que a atividade o interesse, que haja um problema a resolver, que ele possua os conhecimentos para agir diante da situação e que tenha a chance de testar suas ideias. Reflexão e ação devem estar ligadas, são parte de um todo indivisível. Dewey acreditava que só a inteligência dá ao homem a capacidade de modificar o ambiente a seu redor.
FONTE: http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/john-dewey-428136.shtml
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